colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

O questionável branded content da Braskem

05/01/2025 - 09:20
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E chegou 2025. Um ano que se desenha muito difícil para o Brasil que não está preparado para a “tempestade Trump, nem para o “gasto é vida” irresponsável de Lula e seus asseclas na base do vale tudo, até quebrar o país para tentar manter o governo do já então octogenário subletrado, incompetente e corrupto no poder.

E as sinecuras típicas do PT que asseguram a festa da legislatura mais corrupta que esta Nação jamais viu, e da não menos corrupta gestão do judiciário nacional. Juntos essa turma simplesmente engolfou mais de centena de bilhões de reais gerados a mais pelo acintoso arrocho da receita federal, aquela que gere o conhecido “manicômio tributário nacional”. O brasileiro definitivamente está ferrado com essa gente toda no poder a mamar nas tetas gordas e corruptas da gestão petista.

Vamos ter muito o que falar ao longo deste ano íngreme que teremos que escalar. Mas hoje o nosso assunto será mais uma vez a Braskem e os malefícios que esta empresa vem causando a mais de 140 mil afetados até hoje credores não pagos da empresa por conta do megadesastre que ele provocou na capital de Alagoas e que alcança valores vultosos superiores a mais de 15 bilhões de reais. Ao contrário do que capciosamente afirma a empresa.

É que no apagar das luzes de 2024, a multinacional que está passando por uma gigante crise que ela busca a todo custo esconder/maquiar ao mercado com o apoio disfarçado da mídia especializada nacional, diga-se de passagem, passou a investir pesadamente num ramo do jornalismo que apesar de legal é altamente capicioso e perigoso para o leitor que pode ser confundido por textos ambíguos de material publicitário como se fosse matéria jornalística válida e real, o que não é: o “branded content” que aportuguesado se chama insidiosamente de “conteúdo de marca” propaganda disfarçada de notícia.

E sobre isso, a jornalista e mestra em sociologia Wanessa Oliveira do site Mídia Caeté escreveu um irrepreensível artigo “Rasgando a Cortina” dessa prática de desinformação que corre solta no tal branded content que a Braskem mais uma vez abusou de se utilizar para vender mentiras como se verdades fossem. Por isso, abdiquei do meu texto para abrir as paginas do EXTRA para que replicar o artigo da brilhante articulista sobre mais essa escória patrocinada pela Braskem para enganar autoridades, mercado, acionistas, o publico em geral e em especial os alagoanos:

O questionável branded content da Braskem com UOL e CNN

A movimentação da Braskem na produção das táticas de desinformação já é terreno conhecido e explorado, mas e quanto aos veículos que vendem espaço para a mineradora?

Por Wanessa Oliveira, da Mídia Caeté

Nesses últimos dias do ano, o UOL publicou um conteúdo intitulado: Projeto Flexais – Em Maceió, região dos Flexais recebe ações da Braskem para mitigar isolamento econômico. Abaixo do título, em letras pequenas, a tarja: “oferecido por Braskem”, e uma informação funcional para resguardar a empresa de jornalismo: “Este conteúdo é uma produção do UOL Content_Lab para Braskem e não faz parte do conteúdo jornalístico do UOL”

Não obstante o aviso discreto, e que em nenhum momento especifica tratar-se de um material publicitário, o que vem a seguir é um conteúdo em formato de reportagem enaltecendo o que seriam ações produzidas pela mineradora Braskem no bairro dos Flexais. A região, afetada diretamente pelo afundamento provocado pela Braskem nos bairros, é tomada pelo grave isolamento social e econômico, além da insegurança da comunidade que sofre com rachaduras, invasão de água e um universo de problemas estruturais.

O texto na UOL, que não é da UOL, propagandeia o o Projeto Integração Urbana e Desenvolvimento dos Flexais, que a empresa foi obrigada a realizar, a partir de um Termo de Acordo assinado junto ao Município de Maceió, Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual e Defensoria Pública da União. Ao invés de uma prestação de contas, a divulgação abusou dos recursos de propaganda, ao tempo em que utilizou o formato jornalístico para detalhar as ações da mineradora.

A UOL não é a única que recebe para falar bonito da empresa. Nesta quarta-feira, 30, foi a vez da CNN reproduzir mais um conteúdo patrocinado:

“Olhar para o futuro: Braskem desenvolve ações de reparação em Maceió. Com responsabilidade e compromisso com as pessoas, obras de mobilidade e recuperação são implementadas na cidade”. Pelo título e entretítulo, é possível identificar o tom utilizado no texto que, aliás, nem é o único. Quatro dias antes, já havia outro, desta vez com o mesmo assunto veiculado pela UOL: Em 5 anos de trabalho em Maceió, o maior compromisso é com as pessoas. Dentre as ações, além do cuidado com as áreas desocupadas, o Projeto Flexais tem 23 medidas definidas com o objetivo de restabelecer a dinâmica socioeconômica da região em situação de ilhamento socioeconômico

Tem cheiro de limão, sabor de limão, formato e textura, mas não é limão

Mariana Mandelli e Isabella Galante, respectivamente coordenadora e analista de comunicação do Instituto Palavra Aberta, produziram um artigo para o Educamídia intitulado Jornalismo, informação e publicidade: fronteiras borradas. Nele, debatem sobre como os meios virtuais tornaram difusa a linha que separa o jornalismo da publicidade. São vários os exemplos apresentados, comprovando que uma tarja indicadora qualquer não é suficiente para impedir distorção de entendimento aos leitores.

Entre os exemplos, vem o que é feito nitidamente por UOL e CNN ao abrir o espaço para a Braskem, o branded content. Nas palavras das autoras: “muito comum em veículos tradicionais como jornais e revistas, que vendem esses espaços para empresas anunciarem seus produtos ou marcas dentro de uma narrativa, simulando uma matéria jornalística.” Mais abaixo, problematizam como nestes textos a mensagem publicitária nem sempre se encontra evidente, provocando desinformação e confusão.

Se em situações cotidianas, essa relação publicitária no jornalismo já é alvo de reflexão e crítica ao exercício da profissão, a condição é ainda mais grave quando a veiculação dessa estratégia publicitária abre espaço para a causadora de danos dizer, sem qualquer contraposição, o que quiser – o que vem se mostrando um caso flagrante de conflito entre os argumentos levantados pela Braskem e a realidade da comunidade.

Para demarcar o contraste, o Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) emitiu uma nota em que já começa confrontando a informação de que o Projeto Flexais foi resultado de escutas aos moradores, pois, como afirmam, “não levou em conta os interesses da maioria dos moradores da região, que defende o direito de serem realocados com indenização justa, e nem o próprio laudo antropológico realizado por perito do MPF que constatou que mais de 70% (setenta por cento) da população afetada deseja a realocação com indenização justa.

O MPF, o MPE/AL e a DPU – numa atuação claramente deficiente em relação aos direitos coletivos dos moradores dos Flexais – não respeitaram a posição da maioria dos titulares do direito violado, provocando uma “revitimização das vítimas do maior crime socioambiental urbano em curso do mundo”, declarou.

A nota também informa que uma ação civil pública promovida pela Defensoria Pública do Estado, julgada parcialmente procedente e já em fase de perícia, consta com oito estudos demonstrando que realocação com indenizações justas é a medida mais adequada.

Também foi confrontada a declaração na matéria publicitária de que “apesar da proximidade com os bairros desocupados, a região dos Flexais, que margeia a Lagoa Mundaú, não apresenta indícios de subsidência relacionada à extração de sal-gema e, por isso, não foi incluída no perímetro de risco criado pela Defesa Civil em 2020”.

O MUVB rememorou, na nota, que durante a CPI da Braskem, o coordenador técnico que esteve à frente dos estudos da subsidência do Serviço Geológico, “que identificou a mineração da Braskem como responsável pelo fenômeno da subsidência do solo e das fissuras e rachaduras das residências em cinco bairros de Maceió, disse em alto e bom som que a região dos Flexais estavam sim na área de risco geológico provocado pela empresa mineradora, que com seus aliados, ficam numa posição negacionista, não obstante as inúmeras subsidências, fissuras e rachaduras existentes nas casas dos Flexais”.

A movimentação da Braskem na produção das táticas de desinformação já é terreno conhecido e explorado. Seja pelo soterramento de estratégias midiáticas – que reportamos aqui na Mídia Caeté – seja pelo indiciamento por apresentação de estudos ambientais falsos (e isso é só um exemplo). A própria UOL noticiou- desta vez, jornalisticamente de fato – diversas práticas da mineradora neste sentido.

Comprar espaços para difundir informações controversas não é absolutamente um problema para a Braskem, mas há que lembrarmos da velha máxima de que, quando um não quer, dois não fazem. Veículos de imprensa precisam ter responsabilidade na escolha de seus clientes, no tipo de conteúdo que difundem quando possuem seu modelo de negócios baseado em verba publicitária, ainda mais quando se trata de branded content . Não dá para colocar uma tarja de “conteúdo patrocinado” e lavar as mãos para a desinformação correr solta. A gente espera mais do jornalismo – mesmo que numa empresa corporativa.

Assino embaixo!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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