colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Combate às drogas e crime organizado: é preciso mudar tudo

01/11/2025 - 06:00
A- A+

A recente Operação Contenção no Rio de Janeiro (28 de outubro), que resultou em um saldo oficial de 115 civis mortos (o maior da história do estado, segundo o Governo do RJ) contra apenas quatro policiais, não é um evento isolado; é a síntese brutal do fracasso da política de “guerra às drogas” no Brasil e a prova cabal de sua natureza racista e classista. O contraste lascante: a tragédia do Rio expõe, de forma incisiva, a estratégia falida. A letalidade recorde, com 115 suspeitos mortos (número ainda em atualização), foca na execução do varejo (os “pés de chinelo”), priorizando o confronto em detrimento da inteligência e da prisão. Embora tenha havido a apreensão de 91 fuzis (de 118 armas no total), o armamento tático não atinge a estrutura financeira da facção. Dos 100 mandados de prisão, apenas 113 presos (incluindo 33 de outros estados) foram detidos, e os principais líderes dos pés de chinelo operacionais — como “Doca” (Urso), alvo central do CV na Penha — conseguiram fugir. O volume de drogas apreendidas é um custo operacional reposto em dias pela facção, demonstrando a assimetria da repressão.

A impunidade estrutural: o verdadeiro centro de gravidade do crime não reside nas favelas, mas nas altas esferas do poder e da economia formal. A “guerra” é travada com força bruta contra o braço armado e social do tráfico (a base); contudo, o coração financeiro e empresarial, que injetou quase R$ 350 bilhões na economia em três anos, opera impune. Os grandes operadores financeiros e corruptores localizados no Executivo, Legislativo e Judiciário quase nunca são alvos de operações. O resultado é perverso: executa-se a base social (que é reposta de imediato) em busca de legitimar a retórica do Estado interventor, enquanto o lucro bilionário e a estrutura de comando permanecem intocáveis.

A solução é deixar de atirar na base e mirar na conta bancária:

  • Focar em inteligência financeira (PF/COAF): redirecionar investigação de lavagem de dinheiro e confisco de ativos.
  • A legalização/regulação do mercado de drogas como medida de eficácia comprovada para abalar a fonte originária de receita do crime organizado. O proibicionismo é escolha que beneficia o crime. O resto é discurso.
  • A repetição de operações letais, sem atingir as esferas de poder, é ato de terrorismo de Estado contra a população pobre. Apenas garante a perpetuação da crise de segurança. É preciso romper com a política de extermínio, a aliada do narcotráfico.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato