O nu na paisagem urbana não causou celeuma
Texto de Benedito Ramos – escritor da Academia Alagoana de Letras
A década de 1990 chegava com a derrubada do Muro de Berlim em 1989 e, em seguida, o fim da União Soviética em 1991, possivelmente motivado pela derrocada do comunismo na Polônia de Lech Walesa entre 1990 e 1995. A Guerra Fria tinha perdido o sentido. O desarmamento e a espionagem seriam mais brandos. Mas, a polaridade bélica entre o ocidente e oriente continuaria com outros atores fazendo de 11 de setembro de 2001 um dia inesquecível para os Estados Unidos.
O terceiro milênio vaticinado pela escatologia como fins dos tempos transformou a expectativa do Bug do Milênio numa fantasia tecnológica. Nada aconteceu, e por isso a nova era pareceu chocha. Quem esperava 2001 como “uma odisseia no espaço”, se decepcionou e contentou-se em ver “Matrix” na telona. Enfim, a paisagem urbana era a mesma, e a Nasa havia abandonado a corrida espacial porque o dinheiro dos patrocinadores acabara. No entanto, a mesma tecnologia transformou em realidade a ficção vivida no século anterior. A começar pela comunicação. A internet realizou o milagre de promover a conexão com o planeta inteiro. As redes sociais recém-criadas se aperfeiçoaram. A língua inglesa se popularizou com termos cibernéticos, hoje impossíveis de ganhar sentido, quando traduzidos para o português, embora até uma criança de cinco anos conheça.
O nu na paisagem urbana aparece, pela primeira vez no Brasil, em 2001. A façanha foi protagonizada pela estudante, na época presidente da Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), Carla Santos, que ficou conhecida como “Bunda Pintada”, quando protestava contra FHC e a favor da CPI contra a corrupção, no Congresso Nacional, em Brasília. De lá para cá, tornaram-se comuns os protestos com nudez; o mais conhecido foi a “Marcha das Vadias” em 2013, que pregava a legalização do aborto e o combate a violência sexual contra a mulher.
O lado masculino também se engajou nessa onda, e uma das lembranças marcantes deu-se quando da visita da chanceler alemã Angela Merkel à Grécia. O protesto ocorreu em frente ao parlamento grego, quando um homem correu completamente nu, configurando a resposta dapopulação ao pacote de austeridades promovido pela União Europeia.
A nudez na arte fez sua grand entrée no terceiro milênio com uma sessão de fotografias no Parque do Ibirapuera, em SP, no dia 27 de abril de 2002. Com cerca de 1.200 pessoas, apenas 400 tiram a roupa no início da manhã de sábado, diante do olhar de jornalistas e curiosos.
Avaliar o impacto dessas aparições de pelados em via pública, diria que foi o mínimo – nada para uma discussão maior, nem debates nas redes sociais. Amigo leitor, se você está curioso para onde eu quero chegar, eu também estou. Aguarde.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA



