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Odilon Rios

Odilon Rios é jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

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O alagoano admirado por Machado de Assis e Olavo Bilac

07/09/2024 - 06:00

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Poucos lugares em Maceió trazem a lembrança de Guimarães Passos. Um deles é a praça que leva o nome do poeta, no bairro do Poço.

Em 9 de setembro de 1909, exatos 115 anos, ele morreria em Paris, aos 42 anos. Nascido em Maceió em 22 de março de 1867, Guimarães Passos foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Admirado por Machado de Assis, Passos chegou a escrever quatro livros em autoria com nada mais nada menos do que Olavo Bilac, príncipe dos poetas brasileiros, o maior dos parnasianos. Parceria tão intensa que o alagoano chamava Bilac de “queridíssimo irmão”.

Saiu de Maceió aos 19 anos e, no Rio, virou boêmio nas noites cariocas; de dia trabalhava na imprensa. Conheceu Luís Murat, jornalista, poeta e político, mas que era mais conhecido e temido mesmo por ser briguento e exímio capoeirista. O encontro destas duas personalidades tão diferentes não teve confusão, mas poesia. Guimarães Passos convidou Murat para prefaciar “Versos de um Simples 1886-1891”, principal livro do escritor e dedicado à esposa, que morreu jovem.

Murat diz que os versos são de um poeta “com a sua alma iluminada e festiva”, ao mesmo tempo “triste como a noite” e “clara como o dia”. Porque o poeta, assim como o oceano, “também precisa do carinho da brisa, depois das flagelações das tempestades”.

É neste livro que está Nihil, considerado por Miguel Sanches Neto um dos 100 melhores sonetos clássicos da língua portuguesa:

Sem aos outros mentir, vivi meus dias
desditosos por dias bons tomando,
das pessoas alegres me afastando
e rindo às outras mais do que eu sombrias.
Enganava-me assim, não me enganando;
fiz dos passados males alegrias
do meu presente e das melancolias
sempre gozos futuros fui tirando.
Sem ser amado, fui feliz amante;
imaginei-me bom, culpado sendo;
e se chorava, ria ao mesmo instante.
E tanto tempo fui assim vivendo,
de enganar-me tornei-me tão constante,
que hoje nem creio no que estou dizendo.

Guimarães Passos chegou a fugir do Brasil, acusado de crime político, e mudou para Buenos Aires. Sua colaboração nos jornais argentinos permanece inédita no Brasil e ainda não traduzida ao português.

É autor de A Casa Branca da Serra, sucesso na voz de Inezita Barroso. Em 1997 a Academia Brasileira de Letras reeditou Versos de um Simples e Horas Mortas, mas Guimarães Passos, também pouco conhecido em Alagoas, é raramente citado pelo país.

Cumprindo a sina de tantos famosos, após anos virou apenas nome de praça.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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