O padre, os filhos bandidos e Tavares Bastos
Entre os anos de 1840 e 1850, os interiores de Alagoas, Pernambuco e Sergipe eram um cenário de caça – no sentido literal – a opositores que facilmente poderiam ser chamados de bandidos mas também tinham os dois pés fincados no Judiciário e na Igreja Católica. Padre e chefe político de Palmeira dos Índios, José Caetano de Moraes foi assassinado em 1844. Os filhos do padre, todos pistoleiros, se espalharam pelos interiores com sangue nos olhos e planos de morte cruéis. Manoel d’Araújo Moraes foi para Quebrangulo. Em julho de 1845 invadiu a casa do tenente-coronel Manoel de Mello da Silveira Carlos. Matou todos os cinco integrantes da família. No mês seguinte invadiu o Engenho Tijuco e matou o comandante superior da Guarda Nacional de Anadia, José Francisco Leite.
O outro filho, João Vieira Dantas, foi para Penedo. Em agosto de 1845 trucidou o pai do subdelegado Felippe Rollim de Moura e matou outros dois, no Povoado São Brás. O terceiro filho-bandido do padre era José Caetano de Moraes. Poderia ser chamado de proto-Lampião, por causa da semelhança dos métodos de ataque, as costas sempre quentes e a união de forças muito poderosas para eliminá-lo, como aconteceu com o “rei do cangaço” quase um século depois. Moraes filho foi caçado por Apolinário Florentino de Albuquerque Maranhão, coronel da Legião das Guardas Nacionais de Garanhuns. E assassinado em agosto de 1851 no povoado de Capim Grosso, em Canindé do São Francisco, Alto Sertão sergipano. Hoje o local é conhecido como Serrote do Morais. Tombava o último dos Moraes, encerrando um sangrento conflito político envolvendo a família do padre e o ramo sertanejo da família Cavalcanti, de Pernambuco. Pano de fundo: a briga entre os Lisos e os Cabeludos – os conservadores e os liberais.
O coronel Apolinário era irmão de Lourenço Cavalcanti de Albuquerque Maranhão, o Barão de Atalaia, líder do Partido Liberal e tratado como responsável pela morte do padre. A briga surgiu porque o padre – também pistoleiro – jurou a família do barão de morte. Eliminaram o padre por pragmatismo. Os filhos revidaram, como vimos acima. No caso de José Caetano de Moraes, ele invadiu a Fazenda Saloubre, dos pais e familiares do Barão de Atalaia, em agosto de 1850. O barão e o irmão se uniram, e um ano depois mataram o último filho do padre.
O padre Moraes era tio do juiz Tavares Bastos, pai do patrono da Assembleia Legislativa Aureliano Cândido Tavares Bastos. Tavares Bastos pai foi escolhido, mais para a frente, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Quando isso aconteceu, Aureliano já estava morto, vítima de uma pneumonia, em 1875.
FONTES
- ALBUQUERQUE, Samuel. À Sombra do Serrote: Local da Morte do Bandoleiro José Caetano de Morais em 1851 Canindé do São Francisco: Acervo Histórico Regional, 2021.
- RIOS, Odilon. Alagoas, poder e sangue: 1817-1847. Maceió [s.n.], 2017.
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