Na ditadura, a esquerda se dividiu e surgiu o PCR
A rivalidade entre o PCR e a aliança PCB-MDB em Alagoas, na ditadura, tinha um contexto. O Partido Comunista Revolucionário havia sido fundado em maio de 1966, em Recife e por dissidentes da própria esquerda. Três alagoanos faziam parte deste núcleo de formação do PCR: Manoel Lisboa de Moura, Selma Bandeira e Valmir Costa. A proposta era privilegiar ações no Nordeste. Em Alagoas, foi penetrando nos núcleos universitários na segunda metade da década de 70.
Em 1966, lançou seu primeiro documento de formulação programática. Era uma carta de 12 pontos aos comunistas revolucionários, fazendo a defesa da alma operária como vanguarda da revolução socialista brasileira. E a implantação da ditadura do proletariado. O PCR acusava o PCB de ser um “centro de revisionismo em nossa pátria”. Direcionando as críticas ao PCB, o PCR atingia, por tabela, o MDB. PCB e MDB formavam a esquerda alagoana.
Eis a questão: num quadro onde a ditadura escalava ações de radicalização, o PCR defendia que a ditadura não seria demolida por meio das eleições, como acreditavam o MDB e o PCB. O PCR defendia uma guerra popular. Entendia que o PCB tinha se aliado a um partido que representava a burguesia, portanto dissociado dos interesses da rebelião. Daí os movimentos de guerrilha e a oposição parlamentar divergiam na forma de enfrentamento ao regime, quadro que mudou em 1974 quando organizações e partidos guerrilheiros foram derrotados, mas redirecionaram suas ações para dentro do chamado campo legal, nos movimentos sociais, operários, estudantes.
Em Alagoas, essa mudança de eixo seria percebida entre os universitários, a partir de 1976, quando a “frente medebista” (PCR, MDB Jovem e PC do B) se uniu para enfrentar as disputas dos diretórios de área da Ufal.
Em 1964, o PCB teve o registro cassado e atuava na clandestinidade. Num país onde a ditadura implantou goela abaixo a existência de dois partidos – a Arena e o MDB – este último era o que sobrava sem que os órfãos do PCB não pudessem abandonar suas peculiaridades, já que, após o golpe de 64, os dirigentes foram presos. Assim, mantinham um trabalho sindical e atuavam no movimento popular. Com o fim do bipartidarismo em 1979, os comunistas alagoanos do antigo PCB se desfiliaram do MDB em 1985.
A ditadura já estava morta.
Fontes:
DISCURSOS, PRÁTICAS E MEMÓRIA: O MDB EM ALAGOAS E A DITADURA MILITAR (1966-1979), dissertação de Mestrado apresentada no curso de História da UFAL em 2017 por Paulo Vitor Barbosa dos Santos
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA