colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Respeitem os velhinhos!

06/02/2024 - 17:59

ACESSIBILIDADE


Eu e vários amigos e amigas entramos na Assembleia Legislativa bem jovens, com idades variando entre 18 e 25 anos. Trabalhamos em vários setores, uns ficaram à disposição de outros órgãos, como eu, mas sempre trabalhando.

Nossa Assembleia passou por fases boas e más. Antes de existir o duodécimo, vivíamos tranquilos. Recebíamos pelo Estado: ativos pela Secretaria de Administração e inativos pela Secretaria da Fazenda. Quando era aprovado um reajuste para toda a categoria, íamos nós levar a comunicação para as duas secretarias. Recebíamos os salários em dia, no mês em que o aumento era concedido.

Em 1989, pela nova Constituição, o Legislativo começou a receber o célebre duodécimo, isto é, um doze avos a cada mês, do total incluído no orçamento para um dos três poderes. O nosso, em outubro, quase sempre tudo tinha sido gasto e a Mesa Diretora solicitava ao Executivo uma suplementação.
Antes do duodécimo, recebíamos uma tabela de pagamento do ano inteiro e sabíamos o dia de receber o salário a cada mês, o ano todo.

Nossa luta começou quando os deputados passaram a administrar a verba que recebiam. A folha de pagamento cresceu e chegamos a cinco mil servidores. O valor recebido mensalmente aumentava a olhos vistos e foi criado o PDV – Plano de Demissão Voluntária. A Assembleia perdeu mais de setecentos ativos.

Também em 1989, fundamos o nosso Velho Sindicato e passamos a poder lutar por nossos direitos e recorrer à Justiça. Respiramos um pouco, mas víamos acontecer enxertos no quadro de pessoal, promoções elevadas e famílias inteiras de parlamentares caíam na folha de pagamento.

O tempo foi passando, e surgiram mais duas entidades: a dos velhinhos e a Assala. Não sei se ficamos mais fortes ou se dividimos as forças. No entanto, os companheiros que dirigem as três associações lutam por dias melhores.
Os inativos eram pagos pela Mesa Diretora. Até que um dia, dormimos num lugar e acordamos em outro, isto é, fomos jogados no Alagoas Previdência da seguinte maneira: vocês ficam lá e cá; a Previdência paga uma parte de seus salários e o Legislativo paga outra. Todo mês o pagamento é um suplício: não se sabe quem manda os ofícios e o dinheiro primeiro. As entidades ficam correndo atrás da comprovação.

Estourou outra bomba: o STF declarou que os servidores estáveis têm o prazo de um ano para se aposentarem; caso isso não aconteça, vão se aposentar pelo INSS. Tem sido uma correria. Os companheiros estão indo para a inatividade depressa. Poucos ativos sobreviverão e o Legislativo ficará com excesso de comissionados. Tenho a impressão que tal situação é o sonho dos donos da Casa de Tavares Bastos.

E aqui estamos nós, pobres velhinhos, com uma perna na Assembleia e outra no Alagoas Previdência. Até quando? Só Deus sabe! A atual Mesa Diretora concede reajustes ínfimos, protege os comissionados e finge que se dá bem com os sindicatos, mas só faz o que quer.

Servimos de piada para alguns ativos que são jovens e não percebem o risco que correm ficando na dependência de políticos até o fim da vida. Mudou a lei. Agora é de outro modo. Passei 40 anos como servidora ativa e vi tudo mudar, sem que pudéssemos corrigir o erro.

Se fôssemos unidos, teríamos mais força para vencermos os inimigos. Estou procurando um santo para proteger ativos e inativos. Rezemos, pois, para o próprio Jesus. Ele cuidará de todos nós.

Ele existe, não duvidem.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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