colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Para onde vai a Previdência?

23/06/2024 - 06:00

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Ouvi atentamente uma entrevista do ministro da Previdência e fiquei tranquila quanto à sua preocupação com os aposentados mais carentes, que recebem, por mês, apenas um salário mínimo. Estando a citada autoridade, lá em cima, nos altos lugares do poder, não imagina o que acontece nos meandros da Previdência. Há escritórios especializados em procurar pessoas necessitadas que desejam se aposentar sem ter pago quaisquer contribuições ao INSS. Estes sabidos constituem procuradores nas periferias ou nos pequenos municípios para localizarem suas vítimas. Os pobres coitados são orientados para burlarem o sistema previdenciário. Devem dizer que nunca trabalharam, que são sustentados pelos filhos. E o pior: ir mal vestido e de sandália japonesa. Para tanto, enganam o funcionário da Previdência, a perícia médica e conseguem aposentadoria.

A partir deste momento, o telefone do “novo inativo” do INSS não para de tocar. Firmas indicadas pelos astutos procuradores lhe oferecem empréstimos consignados. Como se não bastasse, a pessoa que conseguiu aposentar o inocente não cobra só 20 por cento pelo que fez. Há casos de a cobrança chegar a 7.000 reais. O mais interessante de todo o mecanismo é exigir que o novo cadastrado no LOA tire um empréstimo e pague tudo de uma só vez ao moço sabido que enganou a Previdência.

Sou filha de um ex-fiscal do Iapi, depois INSS. Com doze anos já ajudava meu pai a orientar até mendigos que podiam aposentar-se. Nada era cobrado. Apenas, administrativamente, o fiscal instruía as pessoas a correrem atrás de seus direitos. E elas ficavam gratas.

Ouvi, também, na entrevista, os jornalistas insistindo com o ministro para modificar as aposentadorias dos membros do Judiciário, do Legislativo e dos militares. E ele fingia não escutar! Os militares já foram prejudicados pelas reformas do Paulo Guedes. Quando morre um oficial ou um sargento, a viúva recebe setenta por cento do que o falecido recebia. A pensão de suas filhas, cujos pais passavam anos e anos descontando um alto valor de seus salários, para que elas tivessem tal direito, acabou. Só os mais antigos, bem antigos, permaneceram com a garantia. Um seguro que as viúvas recebiam quando seus maridos faleciam, passou a ser pago apenas sessenta por cento do que foi descontado. Na minha sublime ignorância, para onde foi tanto dinheiro saído dos soldos dos militares durante tanto tempo?

Os militares nunca receberam salários tão pequenos! Sempre dou um exemplo gritante: um coronel do Exército ganha menos do que um motorista do Senado Federal. Quem estudou mais? Se formos falar no Legislativo, precisamos separar senadores e deputados dos funcionários ativos e inativos. Um parlamentar, além do salário, tem dezenas de vantagens, elevando assim sua renda para patamares altíssimos. Isso sem contarmos com gratificações “legais”, tipo: verba de gabinete, auxílio-moradia, auxílio guarda-roupa, passagens aéreas, plano de saúde, etc... Em Alagoas, já foi dito que um deputado estadual chega a receber de duzentos a trezentos mil reais. Os servidores recebem somente os salários.

Outro assunto digno de nota: as “rachadinhas”. Denúncias acontecem no Brasil inteiro e nada é comprovado. Não tenho muito conhecimento do que se passa no Judiciário. Só sei que juízes e desembargadores são muito bem pagos. Todo fim de ano são publicados nos jornais valores bem altos pagos ao pessoal da Justiça, vindo de um tal fundo!

É importante lembrar: a pessoa que percebe um alto salário desconta para a Previdência também elevado percentual. Os servidores da Justiça são concursados e não devem favores a políticos. Apenas seus reajustes são aprovados pela Assembleia Legislativa.

E o ministro dizia que para melhorar a Previdência era preciso descobrir fraudes e para onde ia tanto dinheiro. Era bom que ele visitasse cidades pequenas ou mandasse seus assessores viajarem pelo país, fiscalizando os tais escritórios de que falei. Há pessoas que ficaram ricas enganando o INSS.

Se ele, ministro, quiser mexer com juízes, deputados, militares, vai ter muito trabalho e não vai descobrir fatos ilegais. São grandes salários baseados em leis, criadas pelo Legislativo e cumpridas com o aval do Judiciário.

Assim como eu tive coragem de descrever assuntos tão problemáticos, quero ver o ministro entrar em tal “vespeiro”.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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