colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

A vida é curta

07/07/2024 - 06:00

ACESSIBILIDADE


Acho até engraçado dizer que a vida é curta e eu cheguei aos 83 anos. Mas tenho receio de que ela acabe, pois tenho certeza de que meu dia chegará! Daí, então, vou aproveitar os bons momentos e administrar o lado ruim. Esta semana, minha filha caçula, que mora no Recife, fez 52 anos. Meu marido, pela manhã, disse: “Vamos ver Ana Raquel; estamos tão pertinho dela!” E lá saíram os dois idosos, para surpreender a agora madura mãe de família.

Uma alegria ao chegarmos lá; filha e netos ficaram muito contentes e começamos a planejar o dia 2 de julho. Ligamos para parentes e amigos convidando-os para jantar no Papa Capim, um restaurante da cidade. Tive outra alegria no início da semana: fiz um exame chato com uma médica maravilhosa; ela terminou dizendo: “Aproveite a vida! Você está bem!”

Fiquei feliz no encontro que tive recentemente com crianças do ensino fundamental em meu espaço cultural, constatando que 80% disseram que querem ser professor quando crescer e entrar na universidade. Quiçá esse exemplo das crianças filhas de trabalhadores rurais daqui da Zona da Mata. Aprendi, depois da maturidade, que até coisas pequenas podem trazer muita alegria. De repente vêm as tristezas e precisamos de força para aguentar o solavanco.

Voltando à infância, aprendi com meu velho pai a extrair a parte boa do lado ruim daquilo que nos assusta. Sempre que chegava triste em casa, ele me chamava para conversar e analisar o acontecido. Eu ficava mais leve. Carreguei para a vida toda tantas lições. Recentemente, perdi um parente e compadre, separado de mim. Acompanhei de longe o calvário do pobre moço. Chorei, sofri e imaginei o sofrimento da pequena família dele. Deus, com certeza, colocará o velho amigo em um bom lugar. Espinhos da vida!

Em compensação, um partido político homenageou nosso irmão mais velho, Sabino Romariz, por ter sido presidente do PDT local. Obrigada aos amigos Corintho Campelo e Ronaldo Lessa. A vida me lembra as ondas do mar, isto é, tem altos e baixos. Sempre que acordo pela manhã, agradeço a Deus por esta vida e preparo o coração para as notícias do dia.

De repente, liga uma filha (a mais velha) perguntando se quero notícia boa e eu aguardo alegre o que vem por aí. “Vou a Dubai”, diz ela, “ver minha filha que fará 30 anos”. Deus a leve, digo eu. Outro filho está triste. “Chegou de viagem muito gripado”. Consolo ele, conversamos, rimos e ficamos bem. Aparecem outros aborrecimentos na família, no trabalho, entre amigos. Ainda preciso aprender a ignorar determinados fatos. Ainda me irrito com muito pouco. Não ouvi os conselhos da filha que viajou para Dubai: “Mãe, não passe recibo. Ignore!”

Em determinado momento, um parente que parecia amigo, finge gostar de mim, mas só atende telefone quando está sem ninguém por perto. Se estiver na presença de alguém separado de mim, ele não atende. Sem entender o “porquê”, fico brava. Não sei fingir!

O que mais me apavora são as doenças. De repente a criatura vai fazer um simples exame e aparece o tal câncer. Vem a luta pela recuperação e nada é fácil. Recentemente, morreu um amigo meu, que lutava contra a doença. No Brasil, que é um país complicado, tentamos acompanhar as notícias. O dólar subiu, o Lula briga com o presidente do Banco Central, xingamentos mútuos, as faculdades estão em greve, alunos e professores ficam sem ocupação, enchentes no Rio Grande do Sul, incêndios no Pantanal e nada de notícias boas.

Morar no Nordeste é bom demais! A temperatura é ótima, chove muito, os políticos pouco se interessam pela região. Todavia, a área é linda, o povo é simpático, hospitaleiro e sofremos pouco. Eu tive a sorte de ter uma boa infância, excelente juventude, casei aos 21 anos, fui feliz, ou melhor, sou feliz. Cheguei aos 83 anos, lúcida e com relativa saúde. Só me resta agradecer a Deus e administrar com sabedoria o tempo que ainda me resta por aqui.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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