colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Um conto de Natal

15/12/2024 - 06:00

ACESSIBILIDADE


Lá pelos idos de 40 nasceu em Jaraguá, bairro de Maceió, uma menina loirinha, feinha e sonhadora. Parece que Deus iluminou a mente da garota. Sempre pensou muito e olhava o futuro com visões mirabolantes. Infância feliz é a base de uma boa vida, bem estruturada. Seus pais eram um casal firme e apaixonado um pelo outro. Dessa união nasceram dez filhos, dos quais oito sobreviveram. A criação dos rebentos foi baseada na lei dos homens e todos se tornaram adultos normais.

A menina foi se transformando numa adolescente sadia e consciente de suas obrigações. Aos doze anos já trabalhava com seu pai num escritório de contabilidade e ajudava sua mãe na criação dos irmãos.

A família sempre viveu bem, pois o chefe, além de ser auditor fiscal federal, procurava outros meios de auxiliar na sobrevivência. De 1939 a 1962 nasceram os filhos. O casal contava com os mais velhos educando os mais novos.

A menina estudava e começou a namorar. Tímida, nunca esqueceu o primeiro presente que ganhou de Papai Noel: uma boneca negra. Foi a primeira lição que recebeu de seu pai: não ter preconceito racial.

Ia ao colégio conduzindo pela mão duas irmãs mais novas. Estudava com elas, orientando seus deveres de casa e nos fins de semana as levava para os divertimentos da época: praia e cinema.

De repente, a jovem casa e passa a ter filhos. Dessa feita, criados na lei dos homens e na lei de Deus. Suas quatro “pedrinhas de fogo”, dois danados e duas danadas, se transformaram na alegria da jovem mãe. O casal viveu em vários estados do Brasil graças à profissão do marido e os filhos foram misturando sotaques e hábitos diferentes. O tempo foi passando, as crianças se tornaram adultas e aprendendo a viver segundo suas escolhas.

Como nem tudo são flores, os momentos ruins foram aparecendo. O casal sobrevivendo, aprendendo a enfrentar os obstáculos. O saldo era positivo e a ajuda de Deus foi importante. Entretanto, a jovem senhora passou para os filhos a ideia de que Papai Noel existe e não tira da criatura o direito de sonhar. Todo ano, no Natal, ela passava uma mensagem para os filhos, alimentando novos sonhos.

E a jovem senhora envelheceu, ficou cheia de netos e bisnetos. Sofreu uma grande dor: Papai do Céu levou seu filho João, aos 56 anos, já avô de uma linda menininha. Não fosse o apoio do marido, dos filhos, de parentes e amigos, ela, a “Velhinha das Alagoas”, não suportaria tamanho sofrimento. Está viva, chorosa, mas curtindo os que ficaram.

Eis que está chegando um novo Natal. E o casal velho, mas lúcido, cuida de suas obrigações, consegue sobreviver graças a médicos e remédios. Esperará o Papai Noel no dia 25 de dezembro, reunirá parte da família e pedirá forças ao “Bom Velhinho” para enfrentar o fim de vida.

As alegrias são muitas: o neto mais novo que foi crismado, outro que terminou medicina, a bisneta que fez aniversário, os filhos bem presentes e saudáveis. Espera que não venham tristezas.

O “Bom Velhinho” poderia trazer mente limpa para os políticos que só pensam neles e o fim da violência urbana no país inteiro.

Papai Noel, velhinho bondoso, traga saúde para meus parentes e amigos. Preciso apenas de coragem para perdoar alguns, mas não desejo mal a ninguém; até rezo pela saúde deles.

Feliz Natal para todos!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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