A madame do circo social em Alagoas
Respeitável público, aplausos para a dama do circo social em Alagoas: Peronilda Batista de Andrade, carinhosamente chamada de Peró. Com 70 anos e uma história circundada pela magia circense, a trajetória da artista iniciou no quintal de casa, no período da infância no município de Ibateguara, quando montava um picadeiro com lençóis e reproduzia as apresentações que assistia na cidade natal e também na vizinha São José da Lage, onde teve as primeiras experiências como plateia de circo.
Formada em Teatro e Artes Plásticas, Peró recorda com carinho a surpresa que lhe fez o professor da Ufal Luiz Maurício Brito Carvalheira (in memoria) ao lhe aproximar do ator Marcos Frota, que lhe convidou para um trabalho com cenário e figurino no Grande Circo Popular do Brasil por um período de 15 dias, mas se transformou em um consórcio de vida que já dura 30 anos.
Mãe de dois filhos, um com 11 anos e o mais novo apenas 2, fez a escolha pela estrada com o apoio da família. Assim conheceu vários estados do Brasil e outros países, incluindo as vivências no Cirque du Soleil. Com os atores Marcos Frota e Jorge Fernando, chegou aos estúdios da TV Globo e participou da novela Mulheres de Areia, atuando em preparação de cenários e até mesmo como figurante.
Os giros de Peró no universo da fantasia e arte circense levaram sua alma sensível ao encontro com o circo social, do qual não conseguiria mais desgarrar. Por esse palco firmou estadia em Maceió, e a primeira turma de assistidos pela arte-educadora foi do bairro Jacintinho, mas este trabalho foi interrompido por questões ligadas à política do momento, o que a direcionou para um trabalho com crianças na Cruz Vermelha. O público deste trabalho envolvia meninos e meninas que estavam fora da escola e, pelo forte atrativo que exercia, fez com que Anivaldo Miranda a convidasse para um trabalho na então chamada Favela do Lixão, depois conhecida como Vila Emater.
Recorda com prazer o tamanho do projeto: “Tinha banda de pífano, Guerreiro, Coco, Pastoril, Teatro, Artes visuais, Cerâmica e Circo”! O sucesso deste episódio está registrado em vários trabalhos de pesquisa e matérias da imprensa local. Contudo, a frase “acabou-se o que era doce” parece perseguir iniciativas como estas, e o balde de água fria foi derramado quando recebeu a informação de que os participantes que completassem 15 anos de idade teriam que ser desligados do projeto, porque assim pensavam as assistentes sociais.
Fala de uma resistência montada quando questiona: “Vocês expulsam seus filhos de casa quando eles completam 15 anos?” Junto com o inesquecível anarquista alagoano que já foi militante do partido comunista, e morreu assassinado em dezembro de 2017, Nô Pedrosa, Peró subiu o morro.
“Você não é madame, vamos subir a Vila Emater!”, lhe disse Nô. Fala com emoção da retomada do projeto agora no chão de uma realidade descoberta, mas plena de respeito pelos pais, alunos e comunidade. Quando relata que utilizaram uma casa sem portas e nem mesmo uma bola pertencente ao trabalho foi furtada.
A luta pela vida e vitória sobre o câncer mudou a vida de Peronilda, que será homenageada no carnaval de 2024 pelo Bloco Nêga Fulô, e neste início de dezembro participará do Festival de Circo do Piauí. Seu sonho? Retomar o Circo Social em Maceió com a Lei Paulo Gustavo.banner
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