O primeiro curso de Psicologia em Alagoas
A implantação do primeiro curso de Psicologia em Alagoas vinha também do empurrão, existente no Brasil, do desenvolvimento industrial e urbano, puxando como uma locomotiva o processo de implantação dos cursos pelo país. E Alagoas seguia a onda de qualificação das relações de trabalho do psicólogo brasileiro, aumentando a oferta de cursos na área.
1973. A Fundação Jayme de Altavilla cria o primeiro curso de Psicologia em Alagoas. O Brasil vivia o auge da ditadura. A implantação deste curso – lógico – era acompanhada pelos militares. Para funcionar o curso precisava do aval de Brasília. O que de fato aconteceu. O senador Arnon de Mello tinha trânsito entre os generais, a classe política local apoiava a proposta. Saiu do papel.
Em 16 de agosto de 1974 foi criada a Fundação Educacional Jayme de Altavila (Fejal), através da Lei Municipal nº 2.133. A Fejal mantém o Cesmac que abriu o primeiro curso de Psicologia, com turmas vespertinas e noturnas, analisa o mestrando em História Sílvio Rodrigo Laurindo no artigo Modernização Conservadora e o Primeiro Curso de Psicologia de Alagoas (1970-1980).
O primeiro vestibular foi anunciado para janeiro de 1975. Na prova, questões de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, História e Geografia, Matemática e Ciências Físicas e Biológicas, Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política Brasileira, segundo anota a pesquisa de Laurindo.
“A ditadura militar dava o tônus adequado aos próprios militares e aos representantes da classe dominante alagoana estreitamente ligados à repressão e ao conservadorismo”, escreve o pesquisador.
Uma das alunas da primeira turma de Psicologia, Severina Mártyr Lessa de Moura, foi entrevistada por Laurindo. Lembra bem desta época. “Naquele período, qualquer instituição, qualquer empresa, qualquer atitude coletiva, para ser implantada e ter uma influência grande assim sobre a sociedade, tinha o controle dos militares. Reafirmando, o currículo, a organização da instituição, se não fosse uma instituição que correspondesse ao que os militares esperavam, ela não seria autorizada, nem a iniciar, o curso foi constituído e implantado no modelo vigente, não sejamos ingênuos”.
Ao redor do núcleo autoritário existiam as oligarquias alagoanas. Os tempos exigiam um projeto de modernização, mas tudo sob controle da ditadura, como a implantação do Proálcool, a criação do Polo Cloroalcoolquímico e a intensificação da urbanização. Processos – como a criação do curso de Psicologia via Cesmac – ocorreram na década de 70.
“No caso alagoano, o interesse não era alterar a ordem de produção e poder, bem como a dinâmica do status quo. Aqui houve um processo de modernização que elencou características autoritárias, oriundas de formas arcaicas e agrárias de organização social. Por essa razão essas inovações aconteceram em Alagoas de maneira qualitativamente lenta e subordinada a interesses econômicos e políticos de dominação social e exploração das terras e povos que vivem neste território”, analisa o pesquisador.
Como não poderia deixar de ser diferente – porque em todo o país acontecia do mesmo jeito – o currículo do primeiro curso de Psicologia, monitorado de perto pelos agentes da ditadura, acabava gerando contradições entre as abordagens teóricas e a realidade, que se contrapunha às visões de homem dos generais.
Um dos exemplos, segundo Sílvio Rodrigo Laurindo, é que nesta mesma época crescia a tendência da Psicologia Humanista em Alagoas, com a Abordagem Centrada na Pessoa. “A teoria Centrada na Pessoa começa os estudos a partir de Afonso Henrique, já fora da universidade. Eram paralelos os encontros, mas a disciplina não estava dentro da faculdade, dentro do Cesmac, da Psicologia. Quero ressaltar as contribuições de Afonso nesse sentido, os encontros com os teóricos da centrada: Carl Rogers, Maureen Miller e outros, nos Estados Unidos, que possibilitou que esses importantes pesquisadores viessem ao Brasil para ministrar cursos”.
Afonso Henrique Lisboa da Fonseca é considerado referência local e nacional na atuação do psicólogo no contexto clínico. Morreu em 24 de junho de 2020, aos 66 anos.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA