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Odilon Rios

Odilon Rios é jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

Conteúdo Opinativo

O segredo de Sávio de Almeida

24/08/2024 - 06:00

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Em 2006, na campanha ao Senado, Ronaldo Lessa havia montado uma equipe de peso para disputar – e ganhar – de Fernando Collor. Entre seus informantes estava o professor Sávio de Almeida.

A batalha era dura: o ex-presidente da República havia perdido o governo quatro anos antes, em 2002, também para Lessa, quando Alagoas praticamente rachou ao meio e Collor enfrentou problemas com a Rede Globo. Quase perdeu a concessão da afiliada, a TV Gazeta. Porque a equipe de Ronaldo Lessa levou ao Rio de Janeiro cópias em VHS da programação da TV Gazeta. A tentativa era convencer a Globo que a programação se transformou num QG da campanha governamental do ex-presidente, quebrando os rígidos padrões da emissora de Roberto Marinho.

O governo quase zerou a receita publicitária das empresas de Collor. Funcionários recebiam salários atrasados, e o jornalismo das empresas passou por maus bocados. Dizem que Collor tinha sangue nos olhos e toda essa energia se convertia na campanha. E a campanha ganhou ares ainda mais pesados, com troca de acusações impublicáveis dos dois lados atraindo toda a mídia nacional, afinal Collor tentava, mais uma vez, voltar para a ribalta na política partidária 14 anos após sofrer impeachment.

Para se ter uma pequena ideia, Lessa chamava Collor de Lúcifer e o ex-presidente revidava com supostos detalhes da intimidade do governador. A mídia nacional dizia que a República de Alagoas, encabeçada por Collor, queria voltar ao poder.

A campanha acabou com vitória de Ronaldo Lessa. Mas ele não comemorou como queria a vitória, porque sabia que Collor disputaria o Senado, também objetivo do governador.

Foram quatro anos de mistérios, muitas apostas, reuniões e poucas certezas. Na redação do jornal Gazeta de Alagoas, Collor informou para a equipe de jornalistas que não disputaria o Senado. Lógico, ninguém acreditou. Faltando 28 dias, lançou-se na disputa.

Lessa havia saído do governo, e o vice Luís Abílio de Souza assumiu a gestão.

Nesta época, o professor Sávio de Almeida era um dos informantes de Lessa. Tinha uma rede espalhada em todos os municípios, que lhe repassava relatórios quase diários sobre as eleições. Um trabalho ainda mais sofisticado e minucioso que as pesquisas.

O fato de Collor se lançar tão tarde nas eleições não passou batido nem para o professor Sávio nem para seus informantes. Faltando 14 dias para o fim das eleições, Sávio contactou Lessa. Disse que ele havia perdido a eleição.

O ex-governador custou a acreditar. Mas um dos problemas identificados pelas fontes do professor era o excesso de autoconfiança de Lessa. A crença na batalha do bem contra o mal, desta vez, não deu a vantagem que Lessa esperava.

Abertas as urnas, confirmou-se: Collor ganhou. Quatro anos depois, Lessa e Collor dividiram o mesmo palanque nas eleições de 2010. Lessa tentando o governo e Collor indo para a reeleição.

Os dois tinham um rival comum: o governador e ex-aliado de Lessa Teotonio Vilela Filho. As histórias de ódios e urnas se repetiam...

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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