colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Encontros e desencontros da vida

21/07/2024 - 06:00

ACESSIBILIDADE


Pagamos um preço muito caro para ficarmos velhos, diz um artista amigo. E é verdade. Vamos perdendo as forças, a visão encurta, as doenças se acumulam. No entanto, a experiência cresce e vamos ficando sábios, vendo novos fatos acontecerem.

Quando pequena, vi um moço vender a única casa que tinha para resolver um problema de família. Ainda adolescente, admirei a coragem do rapaz muito jovem. Fui crescendo e pensando como iria ser beneficiado o rapaz pela atitude tomada.

Anos mais tarde, a filha mais velha do rapaz saiu de Alagoas. Deixou os pais morando numa casa sua. E lá, sexagenários, morreram os velhos.

A história não termina por aí. Anos depois, apareceu a oportunidade para a filha, agora senhora, comprar uma casa. Por ironia do destino, foi com o dinheiro da herança do pai que a moça adquiriu o novo imóvel.

Daí porque há um ditado que diz: Deus escreve certo por linhas tortas!

O que mais vemos, no momento atual, é neto explorando avós. Nem são mais os filhos que desempenham semelhante papel. Os aposentados que trabalharam durante dezenas de anos, hoje, são provedores dessas famílias. E o neto ainda pergunta: “Para que a senhora quer tanto dinheiro? Nós estamos moços e precisamos dele”. Fraca, sem poder defender-se, a velha fica subordinada ao neto.

Os militares aposentados descontaram altos valores durante dezenas de anos para que, ao morrerem, pudessem deixar um bom seguro para suas viúvas. De repente, são chamados para várias reuniões. Dizem os do governo: “O dinheiro arrecadado não vai dar para pagar o estipulado”. E agora, o que fazer? Para onde foi o dinheiro descontado? Ora, se os contribuintes, desde cedo, pagaram o montepio, agora, velhos, vão ser enganados e nada acontece?

Os aposentados do Legislativo alagoano estão virando objeto de piada. Os anos de trabalho, os direitos adquiridos de nada valem. O que conta mesmo é a vontade da Mesa Diretora. Ouvi de uma inativa, recentemente: “Alari, aposentei-me e perdi dinheiro; não entendo o que aconteceu; uma colega que ganhava igual a mim se aposentou com um alto salário”. Se alguém for reclamar, o presidente responde: “Judicialize!” Ele sabe que a justiça é lenta.

A vida dá muitas voltas. O quase assassinato do ex-presidente dos Estados Unidos, nesta semana, vai levá-lo novamente à presidência daquele país. Virou vítima e o povo vai votar nele por causa disso. Chego à conclusão de que nós, eleitores, já tendo visto casos semelhantes, não aprendemos a lição, somos piores do que os políticos.

Há poucos meses, um conhecido nosso tomou o apartamento da mãe e foi morar nele com a esposa e dois filhos. Colocou a pobre coitada numa casa invadida pela chuva. Vejo casos idênticos na internet, mas nunca imaginei que na vida real acontecesse tal história triste.

Por falar em internet, vemos acontecer absurdos: filhos roubando a pensão dos pais, nora e sogra brigando por causas banais, filhos expulsando os pais velhos de suas próprias casas. Chego a pensar que nada disso acontece, mas é engano meu.

Dói no meu coração ver uma idosa como eu ser colocada num asilo. No início deste ano, uma amiga de meu pai, que foi alta funcionária do INSS, começou a ficar esquecida e a família levou-a para um asilo de luxo no Rio de Janeiro. Morri de pena!

Vez em quando vejo artistas de TV, outrora famosos, ficarem com uma pequena renda e irem morar no Retiro dos Artistas. Outro acontecimento triste!

Enfim, amigos, depois de velhos tomamos conhecimento de acontecimentos melancólicos nesse mundo de meu Deus. Ele existe. Não duvidem.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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